
HISTÓRIA
O médico e sanitarista, Carlos Justiniano Ribeiro Chagas, ou simplesmente Carlos Chagas, nasceu em 9 de julho de 1879, na FAZENDA BOM RETIRO, município de Oliveira, Centro-Oeste de Minas Gerais, e ficou órfão de pai aos 4 anos. Interno no Colégio dos Jesuítas em Itu e, depois, em São João Del Rey, fez o preparatório para a Escola de Minas em Ouro Preto, atendendo ao desejo de sua mãe, que queria vê-lo formado em Engenharia.
Aos 16 anos, porém, sua verdadeira vocação se manifestou e, em 1897, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Concluído o curso, escolheu como tema de sua tese o "Estudo Hematológico do Paludismo” (1903), o que o colocou pela primeira vez em contato com Oswaldo Cruz. Apesar de sua admiração pelo sanitarista, Chagas recusou um convite para permanecer em Manguinhos, por se sentir atraído pela clínica.
Em 1905, realizou a primeira campanha de profilaxia contra a malária, em Itatinga, interior de São Paulo, conseguindo em pouco tempo controlar o surto. Foi a primeira campanha antimalárica bem sucedida na história desta doença. Seu método consistia em observar e descrever minuciosamente a transmissão intra-domiciliar da malária. O resultado desse trabalho serviu de base para o efetivo combate à moléstia no mundo inteiro.
Voltando de São Paulo, ingressou, em 1906, nos quadros do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), onde trabalharia durante toda a vida. No ano seguinte, foi enviado por Oswaldo Cruz, junto com Arthur Neiva, para combater uma epidemia de malária em Xerém, na Baixada Fluminense. Em fins de 1907, encarregado por Oswaldo Cruz, Carlos Chagas viajou, com Belisário Penna, para Lassance, arraial quase às margens do Rio São Francisco, onde a malária devastava o acampamento dos trabalhadores da E. F. Central do Brasil. Instalou sua casa e seu laboratório em um vagão de trem.
No povoado, observando a infinidade de insetos hematófagos, barbeiros, alojados nas paredes de pau-a-pique das moradias, decidiu examiná-los. Encontrou neles um novo parasito, que chamou de Trypanosoma cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz. Verificou que o parasito era patogênico para animais de laboratório e descobriu sua presença em animais domésticos. Paralelamente, Chagas já havia detectado nos habitantes da região alterações patológicas inexplicáveis. Começou então a pesquisar as ligações entre o novo parasito e a condição mórbida daquela população. A 23 de abril de 1909, Chagas descobriu pela primeira vez o parasito no sangue de um ser humano: uma menina de três anos, Berenice, em plena fase aguda.
O trabalho de Chagas é único na história da medicina: inicialmente, a descoberta do agente patogênico, depois, seu estudo e, finalmente, a descrição da moléstia por ele provocada - tudo isso realizado por um único pesquisador. Foi ele ainda o primeiro a descortinar a importância social da nova doença, entre as endemias que assolavam o País.
Sua obra, porém, não se restringiu à doença de Chagas. Foi o primeiro a descrever as lesões da medula óssea na malária, descobriu novos e importantes transmissores e revolucionou sua época ao afirmar que a malária era uma infecção domiciliar, o que provou posteriormente com o sucesso de suas campanhas. Ainda em 1912, Chagas realizou uma expedição ao vale do Amazonas, fazendo um completo levantamento médico-sanitário e das condições de vida dos habitantes daquela região.
Ao morrer Osvaldo Cruz em 1917, Chagas assume a direção do Instituto de Manguinhos. No ano seguinte, foi chamado pelo governo brasileiro para chefiar a campanha contra a epidemia de gripe espanhola, que assolava o Rio de Janeiro. Em seguida, foi encarregado pelo presidente Epitácio Pessoa de elaborar um novo código para a Saúde Pública. O novo regulamento, uma segunda reforma sanitária, foi aprovado em 1919 e entrou em vigor a partir de 1920. Criava o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), em substituição à antiga Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), responsável pelos serviços sanitários terrestres, marítimos e fluviais e pelos serviços de profilaxia rural.
Designado chefe do DNSP, criou diversos serviços especializados de saúde, como o de higiene infantil, de combate às endemias rurais, à tuberculose, à hanseníase, às doenças venéreas. Criou ainda escolas de enfermagem e estabeleceu a formação de médicos sanitaristas. Em 1925 foi nomeado professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Lá, criou a cadeira de moléstias tropicais e estabeleceu as bases do estudo de higiene em nosso país. Além disso, Carlos Chagas representou o Brasil em vários comitês internacionais, principalmente como membro permanente do Comitê de Higiene da Liga das Nações.
Fonte: Fiocruz.br
#fiocruz #carloschagas #doençadechagas
RECONHECIMENTO
A repercussão de sua descoberta foi enorme, tanto no Brasil quanto no exterior. E entre tantas homenagens, está uma herma na Praia de Botafogo, no Rio de Janeiro, construída em sua memória pelo escultor Modestino Kanto. Um município do estado de Minas Gerais recebeu seu nome, além de cédulas de Cruzado (depois Cruzado Novo) terem circulado com sua imagem durante a década de 1980.
Quanto aos prêmios recebidos, em 1912 chegou o primeiro, o Prêmio Schaudinn, cedido pelo Instituto de Moléstias Tropicais de Hamburgo, Alemanha. Em 1921 foi nomeado Artium Magistrum, Honoris Causa, da Universidade de Harvard, EUA; em 1923 ganhou o Prêmio Hors-concours, na Conferência Comemorativa sobre o Centenário de Louis Pasteur, em Estrasburgo, França, e em 1925 o Prêmio Kummel, da Universidade de Hamburgo, Alemanha. Ainda recebeu em 1926, 1929 e 1934 outros títulos Honoris causa, vindos das universidades de Paris, de Lima e Livre de Bruxelas, respectivamente.
Recebeu diplomas da Universidade Nacional de Buenos Aires, em 1917; da Faculdade de Medicina da Universidade de Hamburgo, em 1925; e da Cruz Vermelha Alemã, em 1932. Foi nomeado membro da Academia Brasileira de Medicina em 1910, assim que o estudo foi divulgado. Como não havia vagas na época, foi decretado que seria um membro honorário. Também pertenceu à Société de Patologie Exótique da França (em 1919), à Physicans Club of Chicago dos EUA (em 1921), à Associação Médica Panamericana (em 1922), da Sociedade de Artes Médicas das Índias Orientais Neerlandesas (1924), à Academia de Medicina de New York e à Kaiserlich Deutsch Akademie de Naturforscher zur Halle (1926), à Real Sociedade de Medicina Tropical e Higiene de Londres (1928) e da Sociedade de Biologia de Buenos Aires e Academia de Medicina de Paris (1930).
Recebeu o título, em 1920, de Cavaleiro da Ordem da Coroa da Itália; em 1923 de Comendador da Coroa da Bélgica e de Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra da França; em 1924 o Grau de Oficial da Ordem de São Thiago, de Portugal; em 1925, o de Comendador da Ordem de Afonso XII, Espanha; em 1926, Comendador da Ordem de Isabel, a Católica da Espanha; e em 1929, Cavaleiro da Ordem da Coroa da Romênia.
